quinta-feira, 28 de outubro de 2010

CASTA



As nuvens, lá fora, fumaçam o colorido do dia
Em louvor a sua ausência.
Há tantas cartas amontoadas em meu quarto,
Deito sobre elas feito cama e travesseiros,
Se ao menos eu pudesse endereçá-las a você...

Nada me consola...
Nem suas roupas no armário,
Nem suas fotos;
Nem teu resto de perfume naquele frasco sobre a estante...

Tenho-te tanto,
E quanto mais te tenho,
Mais te quero!

Beijos e sussurros, línguas ao pé do meu ouvido...
Abraços que me acalentam a alma fria e solitária.

Minha boca, o encaixe perfeito da sua,
Nossos corpos juntos, quase parecem um
Quando repouso farta sobre o teu peito suado...

Não me fale de um amanhã que talvez virá…
Ninguém sabe, ninguém nunca viu,
O amanhã que sempre se tem todos os dias...

Fale-me do hoje!
Beije-me, abrace-me e sinta-me hoje!
Sinta como sou sua...
Inteiramente sua!
Quando com esses dentes mordisca-me a carne
Quase que me enlouquecendo o juízo a meia noite e meia
Me pedindo dengosa carinhos na madrugada...

Não fale-me de outros amores,
Oh, não fale!
Sinto que a qualquer momento posso morrer de ciúmes,
É como navalha riscando minha pele, arrancando pedaços de mim
Como ferro em brasa viva, sobre minha carne macia...

E todas as dores do mundo não se assemelham a tamanha lastima
A tamanho sofrimento...

E quando falo de morte, é porque essa é única e viril
E se daqui fostes para não mais voltar
Apenas ela consolar-me-ia da vida vã...
Desse vazio que nenhuma outra alma preenche...
E olha que já procurei em outros corpos uma alma igual a sua.
Voltei de mãos vazias...
E com os olhos lacrimejando.

Por isso, oh minha querida, te preciso e te careço tanto.
Luzes perdem o brilho sem você aqui dentro...
Pássaros, fotos e jardins já não valem mais a pena.

Você possui nas mãos o dom de me fazer voar
Não arranque de mim, minhas asas, eu vos imploro!

Vou ficar quieta e intata,
Quase que intocada
Casta.

E prometo guardar meu corpo e meu amor só pra você.

Leila Machado.



6 comentários:

  1. Meu Deus! Você consegue, com cada frase dessa, arrepiar todos os pelos do meu corpo, e me fazer sorrir e chorar, ao mesmo tempo! que loucura isso, né? Amo essa sensação!

    "Fale-me do hoje!
    Beije-me, abrace-me e sinta-me hoje!
    Sinta como sou sua...
    Inteiramente sua!"

    Quem resiste a tanta poesia???

    Aaaaaaaaaaaaaaaaaaah! QUE LINDO!

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  2. Eu apaguei o cometário porque ficou um pouco longo.
    Relendo o poema melhor, acho que você não está exatamente de uma ausência, mas sim uma carência de sempre querer mais.
    Aqui vai meu novo comentário:

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  3. Às vezes, temos tanto de alguém e isso não é o suficiente. O que seria então suficiente? Inefável questão. As horas seguem com o tormento de uma possível ausência, indiferença e esquecimento. Você está tão na mão desse alguém, teu controle está tão à mercê como as marés estão à mercê da lua. Mas é um ato natural, a natureza assim e nos somos parte dela, não é mesmo? O que seria dos planetas sem a sua estrela? A diferença é que um precisa do outro, o que seria de uma estrela seus planetas?
    Minha querida Leila, amei seu poema, quando li pela primeira vez, senti que falavas de ausência, projetei um sentimento meu ao seu texto, mas acho que quer exprimir carência daquilo que já tem. São singelas e nuas suas palavras, sempre descortinadas, cuja essência é só verdade!

    beijos

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  4. profundo amiga!!!!!!!!... me arrepiei toda, com a sinceridade o amor nas suas palavras... bjs felicidades

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