quarta-feira, 23 de junho de 2010

JANELA CINZA




Hoje me sinto seca...
Há vários dias que não escrevo
Do meu útero, nem uma misera letra
Dos meus lábios também não
Sinto-me cansada, desanimada
Tudo continua no lugar
As paredes da minha casa ainda firmes
O teto também, no lugar
Meu amor nesse momento lava a louça
Na pia da cozinha a espera de amor,
Um abraço, um carinho qualquer

A casa está vazia além de nós
A TV fala sozinha
Alguma comida está no fogo sendo preparada
Para o almoço
O Sol até brilha lá fora, vejo aqui da janela
Aliás, da janela vejo muito mais que o Sol
Vejo algumas plantas verdes,
Meu muro, desbotado,
O portão e a rua
Algumas pessoas passeando com pressa
E do outro lado da rua
O muro do vizinho
Sem janelas

Embora tudo da minha janela para dentro
Pareça cinza
A cortina balança levemente
E eu na esperança de que nesse balanço
O vento traga consigo minhas palavras perdidas.
Quero sentir outra vez...
A dor de parir meus textos.

Leila Machado.





segunda-feira, 21 de junho de 2010

BEIJO



E como um quadro pintado a mão, 
meus lábios desenham 
beijos em sua boca...

Leila Machado.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

DO AMOR QUE TRAGO




O amor que sinto aqui é diferente de todos os outros, ele me toma quando quer
Me veste suas roupas me põe na cama e nem me olha...
O amor que sinto aqui é a coisa mais estranha e mais gostosa que já tive.
Por vezes me quer, me deseja feito fera no cio, me come me devora, arranca pedaços de mim com seus beijos que mais parecem os primeiros de um tão seguido nunca antes.
Surpreende-me sempre a cada beijo.
Outras vezes parece que eu não existo, sofre e chora quando eu desabafo nas minhas poesias cruéis e enfeiadas...
Meu amor oscila entre o me ter e o me negar 
Por que pinto ele das palavras mais horríveis e mais hediondas, quando me nega a sua atenção.
Esse amor é tão bom, mas tão bom que me basta ele e o egoísmo, nada mais!
Quero-o só pra mim, e quero que um mundo lá fora se acabe quando estamos uma nos braços da outra no quarto, na sala, na cozinha ou em qualquer lugar, apenas nós duas!
Meu amor é um segredo guardado a sete chaves, é uma cara maquiada, meu amor é uma relíquia, um tesouro perdido numa caixinha que eu roubei pra mim.
E a esse amor grego, me entrego entre tapas e beijos em um duelo incessante de poesia.
Meu amor não me mata em seus contos policiais, me enfeita tanto nos seus poemas, me chama de Iemanjá e quando acaba me pergunta:
- Satisfeita, agora que já se encontra adornada de flores?
Meu amor me enche a alma, me lava em saliva, me despe com facilidade, basta apenas fechar os olhos enquanto lhe beijo, fica desarmada coitada, tão menina, tão inocente no meu prazer grudado a seu corpo...
Meu amor é tão cheia de medos, meu amor diz que tem um nome a zelar e que eu...
Sou uma doidivanas sem juízo, perdida no paraíso que criei pra nós, mas não resiste a minha presença...
Joga em minhas mãos a doce responsabilidade de lhe beijar a boca, de tocar seu corpo, como só eu sei tocar, mansa, amena e aprazível em seu sexo.
Meu amor não é cor de rosa, meu amor é amarelo, a  cor que não gosto, mas lembro-me agora que quem desdenha quer comprar...
Meu amor tem na cabeça borboletas, mas tem a rispidez e a severidade de uma coruja quando acha que já perdi o juízo e nos exponho nas fotos, nas palavras que cá escrevo pensando que só eu sei do que estou falando...
Já não é mais segredo entre nós, por que eu o inventei assim, tão perfeito e cheio de defeitos só pra mim, o inventei para me distrair, para satisfazer meu ego sem querer querendo, mais querendo sim do que não.
A esse amor nunca dei uma rosa branca, a esse amor dei apenas meu corpo vazio e tão cheio de amantes
Dei  meu prazer, sem nem imaginar que seria tão viciante feito droga na veia, feito álcool de vinho.
E desse amor não espero um amanha não posso, ele não me da esse luxo, vivo hoje com paixão e fervor,  com temeridade de não saber se vou beijar-lhe a boca quando o Sol sair ao amanhecer...
Tenho medo sim, medo mesmo, e mais medo ainda de dormir e acordar sem ele, o que sempre acontece e eu nunca me acostumo...
Esse amor só me osculou o corpo, a minha sexualidade uma vez, e eu não o quis mais, tive medo de morrer em seus braços na segunda tentativa
Desse amor, não quero sexo, quero e não quero
Desse amor quero mais amor, mais e mais e mais...
Só!
Não tenho como, não posse exigir mais que isso
Esse amor me faz ficar assim burra e perdida nas letras soltas
Tentando organizá-las em prosa para que entenda
Para que acredite que deveras o que sinto por meu amor...
É amor!
Desculpe se não sei falar do amor do jeito que tu queres
Se só sei escrever de modo ofensivo
A vida me ensinou a ser assim, dura feito aço
Fria feito gelo, agressiva
Mas eis que aqui deixo essas pobres palavras...
Tentando desesperadamente, fazer com que você me enxergue
Me chame, me note, me ame e não me negues!
Nunca mais!

Leila Machado.


domingo, 13 de junho de 2010

"Tês" soltos




Tábua tumulto telhado tido tudo
Tema tia teorema  
Tatu tamanduá têmporas tomate
Todo tendo tinha
Tava tecido tapete talvez
Tagarela tempestade Talita
Thiago Thaize  Tavares
Toma tigela topo tampa
Turbilhão treva tosse
Trindade timidez tola trombose
Termino ter talento  
Tombar topar trabalhar talhar
Tripas trator trucidadas
Tempos trava tenda tabuada
Torpe tremulo tela
Trepar trançar transar traquejar
Também  tracejar  traques
Toque  tato  tijolos traquéias
Tornado tombado travado
Tiro teu tabela tantas
Tecer TV tremer
Turvo tabaco tolerância  ternura
Tragédias tentações terra
Táticos triunfos temperos trajetos
Trajadas tormentos  tentações
Tudo tenho tantos testes...

Leila Machado.

sábado, 12 de junho de 2010

CARTA


Escrevo estas mal traçadas linhas na esperança de fantasiar seu corpo junto ao meu de novo, na esperança de sentir um abraço apertado acalentando meu ser, agora sem sentido, nu e sedento, na esperança também de que leia esta carta e sinta o meu abraço mais saudoso,  dolorido e  amoroso...
Quando você partiu, pensei que não conseguiria mais levantar da cama, pensei que não suportaria dormir e acordar sem você do meu lado, na mesa do café, calado lendo o jornal
Não ver você despir o terno e gravata depois de um dia árduo de trabalho...
Essas pequenas coisas que me fazem tanta falta...
O jeito que me tomava nos braços carente do meu amor, do meu, do nosso prazer.
A forma que acariciava meu corpo, que beijava ele todo, que penetrava não só em mim, você, alcançava até a parte incorpórea do meu ser
Você partiu não só levando as tuas roupas, teus sapatos, teus cacarecos
Você levou os pedaços de mim que te dei, pensando que seriamos para sempre um.
Agora, sou só metade e você inteiro.
Às vezes ainda escuto teus passos arrastando os chinelos pelo corredor
O abrir e fechar a porta da geladeira
A sua respiração enquanto dormia
E quando volto a mim, topo apenas com o silêncio,
o corredor, a cozinha, a cama tudo está vazio, mudo!
Perdemos na escrita da nossa trama, dos crimes que cometemos, nossa cumplicidade
O amor que dizias sentir, esse já não encontro mais nos lençóis nem nas digitais que deixaste em meu corpo, não encontro mais nos jornais que lia durante o café da manhã
Não o encontro nos meus lábios vazios de você...
Eu conheço todos os teus caminhos e tu conheces todos os meus.
E agora estou perdida sem você pra me guiar, pra me orientar
Faça de conta que nada disso conta.
Abre essa porta e volta dessa viagem, longa que já dura mais de dez anos e ainda aqui fico a te esperar, sentada na varanda, na rede que não balança mais...
Volta meu amor toma meu prazer e minha saudade feitos suco de uva em tua boca, sem sede de mim, volta para a casa que tu abandonaste, mas que continua sendo tua
Não há nada que me faça esquecer você, por que eu não quero, não permito outras mãos que não seja as tuas a passear no meu corpo
Ainda coloco o teu travesseiro ao lado do meu na cama, ainda dobro o cobertor como você gostava, ainda coloco tua chicara e o teu jornal sobre a mesa, não quis perder nenhum costume, por que não quero ouvir na tua volta nenhuma reclamação que não seja dessa saudade que tanto me consome...
Que tanto me devora, feito traça roendo um livro velho jogado na estante
Será meu amor que se lembras de mim, que sente essa falta que dói tanto aqui?
Inverno chegou mais uma vez, neve caindo lá fora, e você não está aqui pra acender a lareira.
Não tenho mais forças para terminar de escrever...
O frio invadiu minhas portas e eu só tenho a carta
Para me abraçar.

Leila Machado.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

SUICIDA


Vou escrever esta carta como quem dá um grito de misericórdia, um socorro da inexistência fatal, como quem quer ferir aquele que já se encontra morto, como quem quer rasgar da alma o desespero.
Tenho vivido dias horríveis!
Tristonhos e vazios...
Minha casa é uma escuridão total, sem portas e janelas, não paguei a conta de luz, melhor assim a luz de velas.
E a vida lá fora já não me importa, fiz o que pude, segurei a barra até onde não podia mais.
Namorei alguns homens, fiz sexo com eles, beijei algumas mulheres também, e até tive algum prazer por uma fração de segundos.
Não tive pai nem mãe, ou talvez tenha tido vários, mas nunca os senti como tal, estudei trabalhei, e tenho agora 27 anos advogadas formadas me chamam Maria Eduarda, ou pelo menos me identifico assim. Embora nesse momento pense que todo esse esforço de trabalho e estudo tenha sido... Inútil!
Os dias se foram, os “momentos felizes” também, se foram e foram muito poucos
O colorido também se foi, tudo é preto e branco, e tendendo cada vez mais ao preto.
A vida perdeu sua graça diante dos meus olhos enquanto eu atravessava a rua e via tanta gente bonita, mais feia que tudo, tanta mentira nas bolas de cristal, toda aquela fé descer esgoto a baixo.
A comida também já se encontra insossa e apodrecida na geladeira desligada, comer pra que?
Minhas roupas fedem a mofo, o banheiro está imundo, tem fios de cabelos agarrados ao sabonete seco.
E eu desisti de tudo!
De buscar a felicidade que sempre corria de mim, por mais veloz que eu fosse
Dias melhores virão?
Mentira!
Há tempos que os espero, talvez eles tenham passado por mim sem que eu os percebesse, será?
Nada faz sentido nessa merda!
Resolvi então dar um basta em tudo isso, chega!
Mas como o fazer?
Um tiro certeiro bem no meio da cabeça, na boca?
Cortar os pulsos quem sabe?
Jogar-me da ponte do rio ou da BR?
Drogas?
Overdose!
Não!
Ainda me resta um pouco de dignidade aqui na gaveta das calcinhas eu sei que tem...
Antes, gostaria de dizer que deixo meus livros, e dentro deles os sonhos que não realizei nada mais!
Os que realizei... Levo-os comigo dentro do caixão de madeira barata.
Tanto dinheiro pra que, se vou para o mesmo condomínio dos falecidos?
O chão, a terra jogada na minha cara e os vermes que vão devorar a minha carne macia, meu corpo antes de dondoca, são os mesmos que degustaram a língua suja daquele homem de rua, no fim todos somos iguais, nada valeu a pena se vamos para o mesmo buraco.
Recorro aos remédios, tomo todos de uma vez só, como quem quer tragar com ansiedade o ultimo suspiro da vida...
Peço perdão a Deus, Talvez por meu egoísmo ( na opinião dele ) e pela minha sensatez e coragem de dizer que tudo foi em vão e durmo meu sono mais eterno aquele que me livrará do castigo chamado viver.

Leila Machado.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

ELANE



Tchau tristeza, adeus ilusão de morte
Devolve pra mim a aminha menina, eu exijo!

Elane não mora mais em si...

Por onde andará?
Maltrapilha e esfarrapada?
De vestido curto e vermelho, beijando a boca de algum macho
Feito fera no cio?

Não a reconheço nessa maquiagem dura e pesada
E por mais que eu corra não alcanço aquela que esta expulsou

Devolve bandida tristeza, devolve a minha menina moça de seios fartos
E ruivos ornatos que se adornava de flores

Agora só vejo essa de carapuça negra
Que enfeita a face de lágrimas também negras

Caminho na sala vazia e só escuto meus passos acompanhados de gemidos seguidos de gritos de dor. Quem me grita? Elane!

Xô agonia, adeus sombras, devolve cá a minha guerreira
Que não é esta de sonhos já mortos e trucidados
Devolve a minha menina mulher
Que não é esta de cabelos ouriçados

Devolve aquela que sorria quando me via de longe chegar
Que não é esta que só me fala com voz de choro
Devolve aquela de Candido sorriso
Que não é esta infeliz sem dentes que vejo a minha frente
Esta de expressão pesada e imunda

Devolve aquela que pousava seminua pras fotos
A que esbanja sensualidade ao dançar
Que tem cheiro de pureza e de sexo ardil

Vai embora dela, tristeza, sombras tudo de ruim que amaldiçoa minha menina
Vai! Pega o trem das 12 pra não mais voltar!
Leva tuas malas gigantes, leva contigo também esta capa preta
Deixe apenas a minha Elane de pele alva e macia
Não carece usar de preocupação
Eu me encarrego de cobrir seu corpo nu tremulo de frio e de medo
Com o meu tato

Deixa que eu cuide dela feito mãe recém parida
Não feito cafetina que abusa da sua beleza
Beleza sim!
Minha menina é dona de uma beleza pitoresca

Levo-a pra minha casa e visto-a com um vestido branco
Mas parece uma noiva ou mesmo uma princesa, uma rainha

Caminhamos de pés descalços na areia da praia
Comemos frutas vermelhas
Sentindo o cheiro da maresia, e das margaridas
Que a primavera trás com o colorido das árvores

Não se importe mais Elane minha
Não se importe nunca mais!
Durma nos braços meus
Tendo a certeza de que dias melhores que esses virão com o amanhecer
Junto com os pássaros

Dorme meu amor que eu canto enquanto velo o teu sono
Rendida aos encantos desse anjo perdido que de asas quebradas caiu sobre mim
Esse anjo que repousa no meu colo
Em busca de aconchego, um mimo qualquer

Beijo-lhe a face dócil, com um toque suave
Elane sorri, sonhando com seu amor esquecido e que por ela é tão lembrado

Segue teu rumo, quando da madrugada a neblina dispersar filha minha
Filha que não saiu do meu ventre seco
Mas que mora em minha alma noite e dia
"Vai  tua vida, que estarei contigo”.

Leila Machado.

sábado, 5 de junho de 2010

PERDÃO




Disseste-me que era a favor da liberdade, mentira!
És um paradoxo vivo, um não ser, o avesso, o contrário.
Não suportara ver outro que cá me enchia de mimos, enquanto brincávamos de ser feliz
Embora meus pensamentos insistissem na idéia fixa de sua imagem, o tempo inteiro.
Mesmo quando não era a tua boca que me beijava o corpo, nem a tua língua que invadia meu sutiã, mesmo afagada nos braços do outro que em prantos implorava por meu amor, com a face lavada das gotas de sereno, que caíram no auge das 2:30 h da madrugada.
As pegadas que deixaste na areia para que eu te seguisse, o vento borrou com facilidade
A onda veio e lambeu o resquício que ficara, embora saiba bem o caminho que me leva até você, íngreme escarpado, um caminho que já sei de cor, mas que por varias vezes temo em não saber o que me leva de volta pra casa, por que no fundo sei bem que isso que você quer, sinto de longe o calor com que me ditas essas palavras ofensivas que negam a todo custo, querendo me dizer o contrario, sinto a força que você faz pra parecer real esse desapego da minha pessoa.
Disseste que me amara desde o primeiro instante em que me avistara, eu te amei no primeiro momento em que te olhei nos olhos, (esses olhos tristes regados a lágrimas) ali no bar, quase embriagado, abandonado, surrado e vadio.
Senti teu ciúme doce, quando aquele outro me tocou as mãos, o mesmo ciúme que cresce a cada dia, feito um filho no ventre da mãe, quando me tomba nos braços daquele outro que não são os teus.
Diz-me entres aspas, nas frases das musicas, nas entrelinhas, palavras do teu amor, que não me convenceram e agora convencem menos ainda, hora me quer hora não me quer
Quer quando pensa que estou vazia do resto mundo, e não suporta quando o resto mundo me traga feito cigarro para longe de você.
“Rapas e restos” te incomodam não é mesmo? Entendi bem!
Então não jogue em minhas mãos a culpa, o desejo, seja lá como queira chamar o fato de se querer algo
“a mais” além do que possas me dar, porque é você quem quer, ASSUMA!
Meu mundo vai bem mais além de tua casinha de bonecas embora seja eu tão moça, tenho responsabilidades e mesmo não querendo tenho satisfações a dar a quem com esmero cuida de mim.
Perdoe-me se não posso doar-lhe todos os meus dias e todas as minhas noites
Perdoe-me se sou feito tempestade que vem bagunça tua casa e vai embora deixando “marcas no teu corpo”
Perdoe-me meu amor se não te posso ser “exclusiva” há mais pessoas que rogam por minha atenção, por meu afeto e por minha amizade além de ti e que eu não tenho como nem por que negar, já que quero o mesmo de volta delas.
Por que no final do dia, sinto falta das “chamadas não atendidas”, daquelas “cobranças”...
Ofereci a você a parte de mim que me cabia dar-te, sem mais.
Perdoe-me se mesmo tão alegre feito "criança" no parque de diversões, e tão cheia de vida não fui o suficiente pra você.

Leila Machado.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

MENINA MULHER



Se me perguntassem como me sinto, diria:
Um tanto confusa, e meio em paz!
Se me perguntassem quantos amores eu tive diria:
Provei de quase todos os amores, e habitei os mais diversos corações
Mas ainda assim, consigo me surpreender...
Consigo me envaidecer
Com a poesia com que um em especial me escreve
Ele tão homem e eu tão juvenil
Timido e cheio de medos
Medo da minha meninice
Das minhas peraltices
Mesmo que por vezes me veja mulher...

Machado L.

terça-feira, 1 de junho de 2010

DESABAFO



Sei que já não sentes a minha falta
Começou tudo tão rápido e mais rápido ainda terminou
Meus sonhos vazios e medíocres perante as tuas experiências
Não supriram a dor das tuas feridas em carne viva
As flores do meu jardim de flores mortas, que trazia comigo, já sem perfume
não foi o suficiente para enfeitar teus dias cor de bege
Amarelada como tuas paredes sem vida, o diamante que te dei era vidro
Assim como as lágrimas quebradas que cortam meus olhos tingindo meu rosto e o papel de vermelho...
De vez em quando sua imagem passa por aqui, se ri de mim e vai embora sem deixar seus passos no chão, e leva consigo o pouco que ainda me resta...
Habitei tua casa, tua vida por tão pouco tempo, tão pouco que foi o suficiente para que você nem notasse que eu estava aí, aqui, ali ao seu lado
E agora tudo se foi, tudo se perdeu, que dor no coração
A culpa não foi minha, nem sua e nem dela, talvez seja minha,
bastante provável que seja minha
Tenho aqui nas mãos alguns pedaços seus misturados aos meus, não sei mais o que te pertence, o que me pertence já que éramos tão um só,
Faz um frio aqui sem tua pele sobre a minha me aquecendo, o verão não vem mais, nunca mais, primavera também não tudo agora terá as cores do inverno, tudo agora será branco e cinza...
Vejo a chuva cair La fora escorrendo na minha janela, não consigo parar de chorar...
Pensando em seus longos cabelos me emaranhando e me fazendo encontrar sua face sorridente...
Diz pra mim que tudo isso não passa de um pesadelo, de um susto que a vida nos prega
Diz que tudo já vai passar me oferece teu colo, teu abraço apertado, me protege dessa solidão que insiste em me acompanhar, não quero outros corpos, não quero outra vida que não seja a tua, não quero outro toque que não seja o teu, não quero outro beijo que não seja o teu, não quero nada que não venha do teu amor...
Quero fugir, correr me recuso a ficar aqui, com você tão perto e se afastando cada vez mais rumo ao horizonte.
Já não sei mais o que fazer perante tudo isso, só me resta esperar o tão longo tempo que nos foi questionado, esperar que ele lave nossas almas e nos junte outra vez.

Leila Machado.