quinta-feira, 10 de junho de 2010

SUICIDA


Vou escrever esta carta como quem dá um grito de misericórdia, um socorro da inexistência fatal, como quem quer ferir aquele que já se encontra morto, como quem quer rasgar da alma o desespero.
Tenho vivido dias horríveis!
Tristonhos e vazios...
Minha casa é uma escuridão total, sem portas e janelas, não paguei a conta de luz, melhor assim a luz de velas.
E a vida lá fora já não me importa, fiz o que pude, segurei a barra até onde não podia mais.
Namorei alguns homens, fiz sexo com eles, beijei algumas mulheres também, e até tive algum prazer por uma fração de segundos.
Não tive pai nem mãe, ou talvez tenha tido vários, mas nunca os senti como tal, estudei trabalhei, e tenho agora 27 anos advogadas formadas me chamam Maria Eduarda, ou pelo menos me identifico assim. Embora nesse momento pense que todo esse esforço de trabalho e estudo tenha sido... Inútil!
Os dias se foram, os “momentos felizes” também, se foram e foram muito poucos
O colorido também se foi, tudo é preto e branco, e tendendo cada vez mais ao preto.
A vida perdeu sua graça diante dos meus olhos enquanto eu atravessava a rua e via tanta gente bonita, mais feia que tudo, tanta mentira nas bolas de cristal, toda aquela fé descer esgoto a baixo.
A comida também já se encontra insossa e apodrecida na geladeira desligada, comer pra que?
Minhas roupas fedem a mofo, o banheiro está imundo, tem fios de cabelos agarrados ao sabonete seco.
E eu desisti de tudo!
De buscar a felicidade que sempre corria de mim, por mais veloz que eu fosse
Dias melhores virão?
Mentira!
Há tempos que os espero, talvez eles tenham passado por mim sem que eu os percebesse, será?
Nada faz sentido nessa merda!
Resolvi então dar um basta em tudo isso, chega!
Mas como o fazer?
Um tiro certeiro bem no meio da cabeça, na boca?
Cortar os pulsos quem sabe?
Jogar-me da ponte do rio ou da BR?
Drogas?
Overdose!
Não!
Ainda me resta um pouco de dignidade aqui na gaveta das calcinhas eu sei que tem...
Antes, gostaria de dizer que deixo meus livros, e dentro deles os sonhos que não realizei nada mais!
Os que realizei... Levo-os comigo dentro do caixão de madeira barata.
Tanto dinheiro pra que, se vou para o mesmo condomínio dos falecidos?
O chão, a terra jogada na minha cara e os vermes que vão devorar a minha carne macia, meu corpo antes de dondoca, são os mesmos que degustaram a língua suja daquele homem de rua, no fim todos somos iguais, nada valeu a pena se vamos para o mesmo buraco.
Recorro aos remédios, tomo todos de uma vez só, como quem quer tragar com ansiedade o ultimo suspiro da vida...
Peço perdão a Deus, Talvez por meu egoísmo ( na opinião dele ) e pela minha sensatez e coragem de dizer que tudo foi em vão e durmo meu sono mais eterno aquele que me livrará do castigo chamado viver.

Leila Machado.

5 comentários:

  1. fiz bem em destruir o seu template
    cade a postagem nova?? rsrs
    assim allan nao vai vim mais rsrrs

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  2. Cortante e pulsante. Bela carta. Sem retoques. Parabéns... Vc mais mais longe do que imagina.

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  3. Tuas palavras me lembraram de um poema de Florbela Espanca.

    "À morte"
    Morte, minha Senhora Dona Morte,
    Tão bom que deve ser o teu abraço!
    Lânguido e doce como um doce laço
    E, como uma raiz, sereno e forte.

    Não há mal que não sare ou não conforte
    Tua mão que nos guia passo a passo,
    Em ti, dentro de ti, no teu regaço
    Não há triste destino nem má sorte.

    Dona Morte dos dedos de veludo,
    Fecha-me os olhos que já viram tudo!
    Prende-me as asas que voaram tanto!

    Vim da Moirama, sou filha de rei,
    Má fada me encantou e aqui fiquei
    À tua espera…quebra-me o encanto!


    "Tendo a morte como remédio, tenho a total certeza que um dia estaremos curados."

    Cibele Oliveira


    Bjs

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  4. Ismália, enlouquecida em torre alta
    Não fazes idéia que o belo luar
    Está nos olhos dos que sentem falta
    Desses olhos que só querem o mar.

    Julieta, apaixonada e desvairada
    Transformou a vida com veneno
    Fez do amor, tudo, sua morada
    Esquecendo daquilo que é sereno.

    O personagem está é na vida
    No peito, forte, que arranca
    As lágrimas que escorrem na ferida

    Levadas pela maré, na espuma branca.
    Gera tristeza incompreensível o suicida,
    Como na poesia de Florbela Espanca.

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  5. Bom poder eu lembrar com os meus escritos obras de uma escritora tão comedida tal qual Florbela Espanca.

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