sábado, 22 de maio de 2010

ANDEI



Andei por muitas ruas
Estive por aí em todos os lugares
Bastou apenas que o vento me soprasse
Tenho andado tão cansada pelas praças e jardins, tão fatigada de tudo que se reflete em minhas sedentas retinas.
Tenho andado no escuro de olhos arregalados.
Tenho andado nua e intata, porém tão machuca, tão ferida dentro em mim
Que vazio...
Beijei algumas flores mortas, caminhei descalça na grama olhei pro mar e pensei:
Que solidão...
Ah... Como tenho andado...
Vi tantos absurdos nas bolas de cristais, tanta impiedade nos olhos dos meus irmãos (a humanidade ), eu ouvi tantas palavras peculiares, tão vagas e tão soltas das bocas profanas e covardes...
Que tola, eu acreditei nos corações dos homens, quem traiu primeiro?
Cada um com sua razão e seu cajado.
Ah... Eu andei por tantas ruas, vi tantos infames, vi e ouvi também tantas poesias, que quase acreditei que fosse verdade.
Vi tantos sorrisos sem dentes, tanta dor, tantas lagrimas secas rolar pela face suja da fome, enquanto eu via ao mesmo tempo tanto dinheiro, guardado, encubado, embotido nos bolsos dos paletós dos homens de preto, vi tanta feiúra na cara maquiada da burguesia e tanta beleza nos olhos daquela criança que catava cheia de esperança naquele lixão.
Eu andei, sentei naquele canapé, no divã, nas calçadas imundas, eu vi tantas coisas Deus meu, enquanto eu degustava, gastava dois mil reais numa garrafa de vinho, enquanto eu trocava de carro, tomava banho de piscina e ria meu riso mais sem graça e mais desprovido de verdadeira felicidade e contentamento, meu irmão comia resto de comida e dividia aquele tão pouco com seu fiel cãozinho que feliz abanava o rabo.
Enquanto eu reclamava da vida, meu irmão orava com fé e com frio...
Eu que choro agora por ter andado, por ter visto tanta barbárie, nos becos escuros e nas ruelas de minha alma, choro por tanto querer mudar essa realidade e confusa não saber por onde começar, eu que pensei que se eu tivesse tudo ia conseguir ter paz interior, eu que agora cá no intimo do meu ser, estou tão desiludida e tão compadecida...
Relembro-me das cenas macabras que presenciei desarmada...
Peço perdão a Deus e ao Diabo, por participar inutilmente de tanta miséria e tantas desgraças.

Leila Machado.

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