segunda-feira, 1 de novembro de 2010

APENAS POESIA




Sinos da igreja aqui em frente
Fazem um inaudível e ensurdecedor barulho
Alimentando ainda mais minhas frustrações a seu respeito
Por onde andarás nesse momento?
Não vê que a solidão dilacera-me quando vais embora?

Às vezes sinto imensurável vontade de implodir  teu carro
E atear fogo em tua “casa azul”
Destruir os teus sonhos
Derramar meu pranto
Meu sangue
Borrar teus planos
Cortar tua face
Desvendar estes tantos segredos
Revelar todos e a todos teu verdadeiro eu
Porque eu conheço teus anseios e traumas
Eu!

Pancadas na porta...
É apenas o vento
A cortina dança seu balé quando ele passa por ela.
O ponteiro dos minutos parece querer incontrolavelmente andar para trás
Eu lutando contra ele, empurrando-o para frente.

Queria evaporar na imensidão dessa sarcástica saudade
Que zomba e rola no chão de rir enquanto me ver a cá a pensar em você.

Telefone não toca...
O que fazes agora que não estas a pensar em mim, em nós?
Existiremos mesmo nós?
Ou é ilusão de minha caixa vazia de pensamentos?
Melhor pensar ser mentira tudo que vivemos
E estar preparada para o final
Porque não suporto mais você se arrogar do meu coração e ir embora sem se importar

Dizes que me adora...
Que sou a mulher da sua vida!
E quando te procuro a noite, não te acho
Quando acho, não sei te tratar com frieza...

Sem essa de casamento aberto!
Eu sou fã dos relacionamentos fechados
Travados
Trancados
Lacrados
Por que quando amo...
Sou mulher, sou menina, sou puta...
De um “homem” só!...
Não há quem me faça doar meu amor e meu sexo
A outro que não o ser por mim amado naquela hora

Não me empurres para outras mulheres
Outros cabelos negros, ruivos ou loiros
Não me enfie outros dedos que não os teus!

Finalmente o portão da garagem se abre
E tu rompes a barreira da porta
Com as chaves nas mãos me indagas curiosa:

-Escrevendo uma carta?

Eu respondo com exatidão:

-Não amor, é apenas poesia.

  
Leila Machado.




5 comentários:

  1. quando vc descreve... juro que consigo ver a casa vazia
    bons cenários ;D
    boa poesia

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  2. “Onde está à chave do escrínio daquele que amo?
    Onde está?
    Estará em seu frio silêncio?
    Nos desertos que atravesso quando estás ausente?
    O que há, o que há de meu ali dentro?”

    Não é mesmo, minha linda? Inquietude maldita, sofreguidão alienada, estupidez que não incomoda, despotismo sentimental, exagero... “Quais são as cores, as coisas pra te prender? Às vezes te odeio por quase um segundo, depois te amo mais.” Existe música mais verdadeira que essa? Por isso, minha amiga Leila, prefiro amar o que não tenho como um cãozinho em frente à vitrine, é melhor do que percorrer labirintos dentro da própria casa em busca da chave do escrínio.
    Teu poema é lindo, de uma pintura acinzentada, pude visualizar as janelas abertas, as cortinas finas em que te esconde espreitando o mundo do seu amor delirante.

    bjs

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  3. Frêmito do meu corpo a procurar-te,
    Febre das minhas mãos na tua pele
    Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
    Doído anseio dos meus braços a abraçar-te,

    Olhos buscando os teus por toda a parte,
    Sede de beijos, amargor de fel,
    Estonteante fome, áspera e cruel,
    Que nada existe que a mitigue e a farte!

    E vejo-te tão longe! Sinto tua alma
    Junto da minha, uma lagoa calma,
    A dizer-me, a cantar que não me amas…

    E o meu coração que tu não sentes,
    Vai boiando ao acaso das correntes,
    Esquife negro sobre um mar de chamas…

    Florbela Espanca - A mensageira das violetas

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  4. menina vc tá desperdiçando seu talento,vc devia escrever um livro de poesia,beijos.

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